terça-feira, 8 de maio de 2012

Entrevista com o professor Helder Molina ao site da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul - FETEMS


Em 02/05/2012 
FETEMS:Qual é o objetivo do curso de formação sindical
Molina: Um dos objetivos principais da formação é construir novas lideranças, ajudar a construir no militante uma consciência mais solidária,mais fraterna, que nada cai do céu, que as conquistas vem em processos que muitas vezes duram longos períodos. A Formação sindical tem o papel também de renovar a militância sindical, para dar continuidade à organização e luta dos trabalhadores em defesa de seus direitos. Penso que a formação é uma ferramenta muito importante para fortalecer a ação sindical, resgatar a história de lutas de nossa classe e de nosso movimento, discutir e atualizar o debate sobre as concepções e estruturas sindicais, de ontem e as atuais, mas fundamentalmente, para mim, o papel da formação é dar conhecimento político, argumento e conteúdos para compreender o mundo, a realidade social, a luta de classes e busca de uma sociedade democrática e justa.

FETEMS: O que é prioridade na formação do sindicalista de hoje?
Molina: Estudar e conhecer a história da nossa classe e dos sindicatos. Conhecer e analisar o que é o capitalismo, a sociedade capitalista, as classes sociais, o Estado, o papel dos sindicatos, a organização e luta na defesa dos direitos dos trabalhadores.Conhecer as concepções e a estrutura sindical, os desafios atuais, as dificuldades enfrentadas hoje, pelos trabalhadores, na conquista e garantia de seus direitos. A formação também deve ensinar o dirigente sindical a planejar a gestão, definir metas e objetivos, quais ações devem desenvolver. Como se comunicar, falar em público, convencer, argumentar, como negociar, como participar nas mesas como fazer uma pauta, como conduzir uma assembléia, uma plenária, etc.

FETEMS: Qual o papel do sindicato nos dias atuais?
Molina: O sindicato deve lutar pela defesa dos direitos dos trabalhadores. O papel fundamental dos sindicatos é a luta e a negociação, na busca e garantia dos direitos sindicais, políticos, sociais e trabalhistas. O sindicato deve priorizar a organização nos locais de trabalho, estar sempre junto dos trabalhadores, ouvindo suas reivindicações, escutando suas propostas, buscando politizá-lo, trazer para a luta coletiva. Sozinho ninguém conquista nada. O dirigente sindical deve ser paciente, tolerante, ter argumentos, precisa estudar, conhecer a realidade, discutir conjuntura, entender de economia e de política, pois ele é um formador de opinião, um exemplo para os trabalhadores. A luta prática educa os trabalhadores, no cotidiano dos enfrentamentos com os patrões e os governos, mas precisa estudar, conhecer teoria, aprofundar os conhecimentos, enfim.

FETEMS: Algo mudou com o passar dos anos?
Molina: Desde o surgimento do capitalismo os trabalhadores lutam para garantir seus direitos. O capitalismo, e o capitalista, vive da exploração dos trabalhadores, a produção dos lucros vem do trabalho não pago aos trabalhadores. O trabalho do trabalhador é que produz as mercadorias, as riquezas, transforma a natureza, mas o nosso trabalho é apropriado, expropriado pelos capitalistas, pelos patrões, e nisso se assenta a exploração, a exclusão social, a miséria. A concetração de renda, a acumulação dos lucros advem dessa exploração e exclusão. Lutamos contra o capitalismo, e buscamos uma economia, Estado e sociedade em que o trabalho humano, e suas riquezas, sejam distribuidos de forma justa e equilibrada, entre os trabalhadores. Uma luta coletiva, processual, que se afirma em cada greve, cada mobilização, cada combate, nas vitórias e nas derrotas.

FETEMS: Como você percebe a participação dos trabalhadores da educação no movimento sindical brasileiro, a partir da sua experiência e da sua formação?
Molina: Desde meados da década de 1980 os trabalhadores do serviço público em geral, estão na linha de frente da organização sindical, da busca dos direitos, e na construção de um serviço público que atenda aos reais interesses da maioria da sociedade, que são os trabalhadores. Foram fundamentais na luta contra a ditadura e pela reconquista da democracia e do Estado democrático de direito no Brasil, na ideologia do Estado mínimo e mercado máximo. Tenho grande respeito, consideração e admiração pela luta dos trabalhadores da educação, e eles são fundamentais para um Estado democrático, voltado aos interesses maiores dos trabalhadores brasileiros. Acompanho por exemplo os investimentos realizados pela FETEMS na formação de seus afiliados e dirigentes, tem crescido muito, os sindicatos da educação são exemplares nisso. Uma das grandes ferramentas desses sindicatos é o conhecimento. 

FETEMS: Como as grandes bandeiras de luta dos trabalhadores da educação podem se inserir no contexto nacional do movimento?
Molina: Nas lutas permanentes, nos debates nas assembleias, na importância da formação política, nos cursos de formação, para alargar nossa visão de sociedade, superando o corporativismo e o burocratismo, que nos faz olhar para os próprios umbigos. As mesas nacionais e setoriais de negociação com o governo, os grupos de trabalhos, os avanços nas negociações com o governo, agora que temos um governo que negocia, ouve os trabalhadores, e reconstrói o Estado, que foi destruído nos tempos neoliberais, tudo isso é importante, mas não pode substituir a autonomia, a independência e a luta dos trabalhadores. Sindicato deve ser independente de partidos e do Estado, ter autonomia e se basear nos reais interesses dos trabalhadores, elevando sua consciência e reafirmando sempre que só a luta conquista direito, e que tudo que conquistamos até hoje é fruto de nossa luta e organização.

Helder Molina 
Professor da faculdade de educação da UERJ, disciplina Educação e Movimentos Sociais, Licenciado e bacharelado em História, pela UFF, e mestre em Educação, pela UFF, doutorando em Políticas Públicas e Formação Humana. É educador popular e sindical, assessor de formação e pesquisador sindical, estuda no doutorado o tema que vincula trabalho-educação- direitos sociais-sindicalismo e consciência de classe e capitalismo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário