domingo, 28 de agosto de 2011

JUVENTUDE E MATURIDADE: OPOSIÇÃO OU INTEGRAÇÃO?

(*) Raimundo Uchôa


A mocidade, em geral, não cria; utiliza, transformando-o, o legado que recebeu. Juventude e velhice não se opõem; completam-se na harmonia universal dos seres e das coisas. A vida não é só o entusiasmo dos moços; nem só a reflexão dos velhos; não está apenas na audácia de uns, nem apenas na experiência dos outros; realiza-se pela magnífica integração das virtudes contrárias, sem a qual não seria possível, em todo o seu esplendor, a marcha da humanidade.                 
(Júlio Dantas, in "Páginas de Memórias")

A greve da FASUBRA tem revelado uma participação de jovens trabalhadores jamais vista em outras épocas e isso merece uma reflexão, tendo em vista principalmente a maneira como esses atores vem se comportando, em meio à disputa travada entre as correntes políticas, que integram a Direção Nacional da Federação e que buscam, em meio a greve, ampliar espaços, antecipando, inclusive, o cenário do próximo CONFASUBRA.

É sabido que os jovens, em geral, são audaciosos, irreverentes, corajosos, inovadores, impacientes, intolerantes, vigorosos, destemidos, resistentes, aventureiros etc. São inúmeras as virtudes importantes que possuem nessa fase da vida e que são capazes de transformar o mundo – para melhor ou para pior –, isso só depende das escolhas que cada um fizer, de acordo com a crença ou a ideologia que escolher.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios do IBGE (Pnad/IBGE), realizada em 2007, existia no Brasil, cerca de 50,2 milhões de jovens na faixa entre 15 e 29 anos, o que correspondia a 26,4% da população. No entanto, de acordo com a mesma pesquisa realizada em 2006, esse contingente era maior (51,2 milhões), o que significa dizer que existe uma desaceleração progressiva do ritmo de crescimento da população jovem brasileira. O Brasil do futuro tende, portanto, a ser mais maduro do que jovem!  

Diante desse contexto surge, então, uma primeira indagação: no que se baseia o investimento que os partidos extremistas de esquerda estão fazendo ao apostar na juventude, uma vez que esse contingente tende a diminuir? Ora, os jovens são o último reduto que lhes restam, pois a maioria da população brasileira, com maturidade suficiente para entender o que ocorreu, na última década, não se deixa iludir com o discurso raivoso e de “terra arrasada” que utilizam para seduzir e, com isso, angariar apoio e votos! Basta verificar o percentual de votos do eleitorado que os “esquerdóides” obtiveram nas últimas eleições – a grande maioria dos candidatos não obteve, sequer, 1% dos votos!

Por outro lado, os jovens são mais receptíveis, uma vez que, com todas as características acima apontadas e diante do discurso sedutor de transformação, conjugado com o desconhecimento da dura realidade, principalmente, acerca do passado são facilmente manobrados e iludidos. Acrescente-se, ainda, o sentimento de utilidade que as modernas ferramentas de comunicação conferem a esses atores, mediante o uso da internet – meio que dominam com competência e maestria. Não foi à toa que Hitler apostou na juventude para dar consecução aos seus objetivos megalomaníacos:

“É por meio da juventude que começarei minha grande obra educacional. Nós, os velhos, estamos gastos. Não temos mais instintos selvagens. Mas minha esplêndida juventude! Nós temos uma das mais belas do mundo. Com eles, poderei construir um mundo novo!”

Não se pode generalizar, deduzindo que todos os jovens estão se deixando manobrar e se iludir, tendo em vista que as peculiaridades regionais, culturais e, principalmente, os níveis de conscientização política, são os mais diversos. Portanto as escolhas e preferências políticas, com os devidos engajamentos, são também diversificadas e acompanham essas peculiaridades, refletindo as diferentes realidades existentes no Brasil. Há, portanto, jovens engajados conscientemente e outros que estão iludidos ou equivocados.

Diante do exposto poder-se-ia, ainda, questionar: o que vem ocorrendo é bom ou é ruim? Essa resposta, com certeza, pertence ao futuro! No entanto, podem-se elencar duas hipóteses com base no pragmatismo político:
1.      Ora, se é sabido que uma das características dos jovens é o imediatismo e as agremiações políticas de extrema esquerda não conseguem emplacar seus candidatos, a fim de darem consecução aos seus projetos, resultando em conquistas práticas para a população, pode-se constatar que muitos desistirão no meio da jornada ou abraçarão outras causas;

2.      Algumas práticas empregadas pelas agremiações de extrema esquerda, baseadas na manipulação de dados e de informações, acrescidas de mentiras, calúnias, difamações e achincalhes, com o tempo e a demonstração cabal do contraditório, desmoronam-se – o que leva ao esvaziamento de suas teses e ao descrédito de seus mentores, mesmo que demonstrem habilidade e resistência.

É possível que parte disso já esteja ocorrendo nesse momento na FASUBRA, especialmente com a crise estabelecida com a greve, na qual o foco principal (conquistas para a categoria) foi substituído pela disputa de espaço político, orquestrada pelas lideranças dos coletivos de extrema esquerda, que apostaram na radicalização em detrimento do diálogo, sem se preocuparem com as consequencias nefastas para a Federação e para a categoria. Dessa forma, a segunda hipótese já se encontra em curso. É só esperar pra ver!

Voltando ao ponto de partida deve-se, agora, retomar o papel e a participação dos jovens (homens e mulheres) que estão integrando pela primeira vez o Comando Nacional de Greve e que, com as devidas ressalvas, se prestaram a executar a pior parte da trama orquestrada pelas lideranças dos coletivos de extrema esquerda:

1.      As práticas anti-sindicais, levadas a efeito com base em calúnias, difamações e, até mesmo, na execração pública foram executadas, apesar do risco imposto à Federação e ao seu patrimônio material e imaterial. Sim, pois foi à custa de muito esforço e sacrifício pessoais que a FASUBRA foi construída e se mantém como entidade respeitada, dentro e fora do País. O fora fulano! Fora sicrano! Seguidos da exigência de renúncia de cargos dos acusados de governistas, é danoso para a democracia defendida e praticada pela Federação, além de ferir a ética e a moral dos acusados – legítimos representantes da categoria, legalmente eleitos em seu fórum principal (o CONFASUBRA);

2.      O desconhecimento do passado histórico, marcado por lutas e conquistas – um patrimônio de todas as forças políticas que integram a Federação – pode ser perdoado para os que estão se inserindo no movimento, nesse momento, mas jamais deve ser ignorado pelos que já estão na luta, de há muito tempo, pois todos perdem com essa prática e, não apenas, o coletivo A ou o coletivo B.

Infelizmente, essas práticas – tão combatidas, principalmente pelos sindicalistas –, não foram poupadas por aqueles que, visando os fins (expandirem seus espaços na Federação), se utilizaram de todos os meios!

Finalmente recorre-se aqui, mais uma vez, ao que disse esse brilhante escritor português Júlio Dantas sobre a interação dialética que deve existir entre juventude e maturidade, a fim de desmistificar o discurso odiento e manipulador daqueles que pretendem seduzir e iludir os jovens que, com sede de participação e transformação, estão aderindo ao movimento, nesse momento:

“(...) Como admitir o divórcio entre novos e velhos - invenção antinatural dos conventículos literários de todos os tempos -, se os velhos têm nas novas gerações, penhor radioso do futuro, o instrumento de compreensão e de difusão da sua obra, e se os novos devem aos velhos a formação do seu espírito, a educação da sua sensibilidade e a opulenta capitalização de riquezas da língua em que se expressam?”

E, se de fato, esses jovens buscam realização pessoal, também, através da militância sindical, certamente compreenderão que na FASUBRA luta-se principalmente por uma sociedade justa, fraterna e cidadã, com respeito às diferenças e onde não há espaço para calúnias, mentiras, manipulações e, muito menos, para aparelhar partidos políticos. Sendo assim aprenderão, mais uma vez, com o sábio escritor mencionado que:

“A paz entre idades sucederá um dia, decerto, à paz entre as nações - quando a velhice egoísta reconhecer, finalmente, que não deve menosprezar os moços, antes facilitar-lhe o caminho da vida, e quando, por seu turno, a juventude impaciente chegar à convicção de que não é atropelando nem injuriando que se vence, e de que, quando os jovens se instalaram no planeta - já os velhos o habitavam.”


Viva a democracia, o respeito e a tolerância!
Todo amor e dedicação à FASUBRA – PATRIMÔNIO dos(as) TAEs!




(*) Raimundo Uchôa é Coordenador de Administração e Finanças da FASUBRA pelo Coletivo Tribo. 

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