sábado, 9 de abril de 2011

A FASUBRA é maior do que a “política de garrafinhas”!

(*Raimundo Uchôa)

Uma democracia atinge seu grau máximo de desenvolvimento (poliarquia) quando o direito de voto abrange a maioria da população e quando a competição pelo poder político envolve grupos distintos, que têm, no entanto, as mesmas chances de chegar ao governo. (Robert Dahl)

Desde que voltei a participar dos CONFASUBRAS, em 2006, após um longo período de ausência, tenho observado com preocupação o que vem acontecendo no seio da Federação e, especialmente, nos seus fóruns de deliberação – espaços onde afloram as disputas políticas pelo poder e são debatidas as questões de maior interesse da categoria.

Agora, como partícipe da Direção Nacional, depois de ter integrado o Conselho Fiscal por aproximadamente dois anos, minhas preocupações aumentaram, principalmente tendo em vista a forma como a direção se organiza, debate e delibera sobre os diversos assuntos, que dizem respeito à vida funcional dos trabalhadores(as) das universidades públicas brasileiras – cerca de 160 mil pessoas espalhadas pelo território nacional. É muita responsabilidade!

A participação de diversos grupos políticos, com ideologias distintas, integrando a Direção Nacional, de forma proporcional e qualificada, eleitos pela categoria no seu fórum máximo – o CONFASUBRA – é uma prova incontestável de amadurecimento político e prática democrática inovadora, vista em raras situações no movimento sindical brasileiro. Esse tipo de arranjo organizativo, colocado sob a perspectiva de Dahl, pode ser considerado uma poliarquia – tipo de democracia em que a disputa pelo poder é alta e a participação política é ampla. Isso, de fato, acontece na FASUBRA Sindical, no entanto ainda de forma atabalhoada, em função de vários fatores, nos quais se destacam a falta de amadurecimento político e de comprometimento, tanto por parte de alguns diretores, como também de boa parcela dos representantes da base da categoria, que comparecem às atividades da federação.

O amadurecimento político a que me refiro, traduz-se na postura do indivíduo (diretor ou não!) que busca exercer com dedicação e responsabilidade suas funções, zelando pelo patrimônio material e imaterial da entidade que representa. Por outro lado, estar comprometido é fazer-se presente de forma integral, buscando participar qualitativamente de todas as ações realizadas por sua entidade (nacional ou local). Essas qualidades estão cada vez mais raras, em nossos representantes.

Estamos, portanto, diante de um impasse: temos uma estrutura organizativa avançada, mas nossa prática política é atrasada e paralisante. Organizamo-nos como uma poliarquia, mas praticamos “democratismo” e manipulação ideológica, baseados no personalismo e na retórica incendiária. Refiro-me, fundamentalmente, aos grupos que se organizam eventualmente nos congressos eleitorais com o intuito, apenas, de eleger representantes personalistas, cujo interesse maior está restrito a si mesmo ou ao pequeno grupo que “ajunta”, em detrimento dos coletivos mais amplos, que focam suas ações em interesses abrangentes que expressam, de fato, as legítimas necessidades da categoria.

A “política de garrafinhas” – evidenciada de forma cabal no XX CONFASUBRA – é uma prática perversa, pois pode eleger indivíduos com “boa” capacidade de convencimento, que usa o discurso fácil e incendiário, mas não possui habilidades para a gestão e a realização das rotinas exigidas por uma Federação do porte e do caráter da FASUBRA, dificultando seu desempenho no atendimento das demandas apresentadas pela categoria. O indivíduo, dessa forma, ocupa um lugar legalmente conquistado, mas como não realiza, de fato, o mister para o qual foi eleito exercerá uma função ilegítima.

A “política de garrafinhas”, por outro lado, por possibilitar o “ajuntamento” de indivíduos, com o interesse exclusivo de eleger representantes personalistas, de certa forma, desqualifica a representação colegiada proporcional, tendo em vista que, no exercício do mandato, seus eleitos agirão mais em função da expectativa imediatista de grupos isolados, a fim de se manterem em evidência, do que em função dos interesses maiores, apresentados pela base. Não avaliam se seus encaminhamentos podem causar embaraços e/ou dissidências. O que importa é o número de votos (ou “garrafinhas”!), que conquistarão com suas manobras e façanhas.

A saída para esse impasse, com certeza, não é retroceder nos avanços políticos conquistados pela FASUBRA, que organiza sua Direção com representação proporcional qualificada e assegura a participação democrática de sua base nas plenárias estatutárias e nos congressos, mas em aprimorar esses mecanismos, por meio de processos formativos e informativos. Podemos, por exemplo, modificar o formato das plenárias, a fim de torná-las mais ágeis, atrativas e produtivas. Podemos, ainda, fomentar a realização de cursos de formação sindical, para qualificarmos a participação de nossos delegados e diretores e, o que é mais importante, incentivar a participação da base no dia a dia da Federação, seja de forma presencial ou virtual, a fim de que tomem conhecimento de suas rotinas e realizações. Somente dessa forma, separaremos o joio do trigo e mostraremos quem, de fato, merece, porque honra com sua dedicação, o cargo que ocupa, seja dirigente ou delegado de base.

A FASUBRA – é oportuno que se diga – é bem maior do que essa nefasta e abominável “política de garrafinhas” que se baseia, apenas e exclusivamente, no discurso fácil e no voto interesseiro!

(*) Raimundo Uchôa é Coordenador de Adm. e Finanças da FASUBRA e integrante da Tribo-Pi.

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